Estou exausto, vejo o ponteiro do relógio dar varias voltas, não sinto vontade de levantar da minha poltrona. Experimento uma insignificância tão intensa agora, sinto que aquela acanhada ferida em meu coração tomou conta de todo meu corpo. É uma amargura que não se sabe de onde emana, é impetuosa demais para afrontar. Meu sonho se torna um pesadelo desequilibrado, minha lucidez se torna tortura e meu “EU” se torna lamentação. Uma simples inquietação com a existência se torna um tormento penetrante. Em meio a tudo isso, já não vejo mais os algarismos no relógio, contudo o pandemônio ensurdecedor do”tic-tac” me deixa aterrorizado. Logo começo a refletir sobre a vida, sobre os fenômenos da criação e da existência, e a angústia se estende. Deixa de ser um tédio e se torna uma aflição infindável. Atingindo o derradeiro do desespero, como que por milagre, consigo um repouso da melancolia e penso serenamente: Reparo que esse tédio não se transformou em agonia com algumas poucas voltas daquele ponteiro do relógio, mas foram 25 anos sentados aqui nessa mesma poltrona sendo tomado a cada instante por essa lástima. Sinto que devo tomar uma posição veloz para tirar proveito do meu momento de consciência e para afugentar essa consternação de uma vez por todas. Abro uma gaveta, pego um envelhecido punhal, que só servia como um mero adorno, golpeio contra a mina de todo esse desgosto. Senti uma dor desumana percorrer do peito até a fronte, mas notei que meu gênio estava sorrindo, como se estivesse liberto. Após testemunhar todo aquele sangue escoando pelo chão, me senti livre da laia humana e cá estou, improvisando, igualmente alguns termos em outra poltrona, e me interrogando se o que estou significando é de fato o livre-arbítrio, pois faz alguns minutos que estou aqui e já sinto um medíocre temor de experimentar aquele tormento novamente. Parece-me uma cena qualquer de uma peça vulgar que se estende em outro lugar.
Alécio Marinho de Brito Junior
(mudei somente a forma do Suicídio)..... RS